Nestes tempos de confinamento, o meu filho não sai de casa desde o dia em que o Governo decretou o fim das escolas, com três exceções.
Uma das vezes, tivemos de sair por uma ida ao médico e passámos pela creche, pois ele tinha muitas saudades da mesma. Ao passarmos estava lá a diretora a zelar pela mesma, para que um dia tudo reabra. Ele ficou muito feliz, o brilho nos olhos ao ver a escola, ao ver a Diretora, ao ver que um dia voltará à escola, o lugar onde estão os amigos e as suas educadoras deixou-o radiante.
Felizmente, nós temos um logrador e brincamos, corremos, fazemos exercícios, brincamos à bola… ou, simplesmente, ficamos a olhar o céu… E, parafraseando a canção, não deveremos ser os únicos a fazê-lo, a olhar o céu! Neste sábado, usamos uma das exceções do Estado de Emergência: “i) Em deslocações de curta duração, para efeitos de fruição de momentos ao ar livre;” e demos a volta ao quarteirão e, ao passarmos numa rua, soprou uma leve brisa ao que ele me exclama: “Gosto tanto deste frio, papá!…”
A vida é complexa, é certo, o vírus tem sido péssimo para todos, mas momentos como a brisa a beijar-nos o rosto, até quando pudermos voltar a sentir o cheiro do mar, o aroma silvestre da floresta das nossas serras, vermos o verde, até andarmos no carro para ir visitar os avós, podermos dar um abraço àqueles de que mais gostamos será algo tão… como é mesmo a palavra?
Saudade, será essa?
O meu filho, com os seus 4 anos, como qualquer lusofalante, tem um sentimento que não consegue compreender, o mesmo sentimento e que nós temos e compreendemos e entendemos o que ele não entende ainda, e, todavia, sente já!
Ele sabe que existe uma doença na rua, sabe que quem não usa máscara e luvas são as “pessoas más”. Sabe que o pai, por força da profissão, tem que ir trabalhar por todos e para todos, mas não sou o único, são muitos aqueles que o fazem. Ele sabe que a doença só passará se ficarmos em casa e, após isso, voltar a estar com os seus amigos, por quem sente aquele sentimento que não sabe explicar: saudade.
De facto, só nós portugueses, com o nosso fado, melhor do que qualquer outro povo, conseguimos entender o que se vive… É uma saudade pelo que se viveu, uma saudade por aquilo que se gostava de viver. É na verdade a saudade que se sente! E de nós, essa melancolia ficou na língua portuguesa e de que todos os que a falam.
Para matarmos, não só este bicho, mas a saudade, temos que manter-nos confinados em casa, usar máscaras, usar luvas… Se todos cumprirmos, tenho a certeza que mais cedo do que esperado controlaremos o bicho e saciaremos a saudade.
Sim, tu estarás, nós estaremos, de novo, todos juntos!
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