quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

RACISMO: CONDENAR SEM MAS, NEM MEIO

Há semanas, escrevi nestas páginas que Portugal não é um país racista. Mantenho as palavras e completo: Portugal não é um país racista, mas, infelizmente, como em todos os países do Mundo, existem racistas.

A questão ali em Guimarães não se resume ao racismo, mas sim ao ódio que se vive no desporto, em geral, e no futebol, em particular. Basta verificar as largas horas diárias em que se inventa e especula nas televisões portuguesas sobre situações extra-futebol, fazendo odes ao ódio e às rivalidades.

Quando o Marega saiu do campo, foi com o mesmo sentimento em que um médico, enfermeiro, professor são agredidos no seu local de trabalho, e aí merece a indignação de alguns. O drama da dor que todos eles sentiram é semelhante. Quando escolheram ou tiveram oportunidade de ter uma dessas profissões, nunca imaginaram que seriam tratados de tal forma. O Marega, nesta situação, fez mais pelo debate sobre racismo em Portugal do que muitas campanhas contra o racismo, algo que nenhuma associação, nem qualquer político tinha conseguido trazer para o nosso quotidiano. Confesso que adorei ler e ouvir algumas frases, de alguns ditos “não-racistas”, tais como: “eu até já estive em Angola.”, “eu até tenho um amigo preto.”, “eu até já festejei golos de jogadores pretos…” ou até algumas pessoas a querer normalizar toda a situação. Não, meus amigos, não é normal ser insultado, seja de que forma for, muito menos utilizando a discriminação da raça como tal. É verdade, algumas dessas pessoas que escreveram ou disseram essas alarvidades, eram as mesmas que chamavam alguns colegas de caixas-de-óculos, de gordos, de atrasado, de mongoloide, de preto, de ruço e sei lá mais o quê. Eram os tempos, era coisa de crianças…” Tudo começa com uma tentativa de normalização do que devia ser respeito e de anormal.

Pois, ainda há quem entenda, nomeadamente os juízes da 9ª Seção Criminal do Tribunal da Relação de Lisboa, que certos comportamentos no futebol são passíveis de: “um comportamento revelador de falta de educação e de baixeza moral e contra as regras da ética desportiva (…) é também ele, de alguma forma, tolerado nos bastidores da cena futebolística.” E concluem: “numa envolvência futebolística não têm outro significado que não seja a mera verbalização das palavras obscenas, sendo absolutamente incapazes de pôr em causa o caráter, o bom-nome ou a reputação do visado.” A circunstância enquadra, mas não releva tudo.

Esta decisão indicia, erroneamente, que, se os seus profissionais, sejam jogadores, equipas técnicas, árbitros, ou delegados, etc… estiverem a desempenhar as suas funções, podem ouvir e podem ser insultados verbalmente com as vitupérios mais obscenos, que “no pasa nada”. Será que um médico, quando falha um diagnóstico, um engenheiro, quando falha um cálculo, um professor, quando não ensina como deve ser, um político, quando não cumpre as suas promessas, podem ser insultados no desempenho das suas atividades? Ou então… receber insultos porque sim, pois existe uns apoiantes que não gostam ou porque vai contra os seus interesses.

Mais vergonhoso é o Secretário de Estado do Desporto vir para a televisão falar que há um combate à violência no desporto, quando quem vive e sente o desporto afirmar que não se apercebe de nada, nadinha. Ah… É verdade que, se for um pequeno clube, um atleta sem qualquer destaque nacional, isto é, não for dos três grandes, não será dado o merecido destaque nacional que a situação mereça. Mas isso não desmerece o seu sentido é absoluto: insulto é insulto, racismo é racismo e não o deixa de ser, mesmo circunstancialmente, isto é, quando envolto no manto da circunstância em que ocorre. Não ao racismo, sem mas, nem meio mas.

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