Ponto prévio: Não sou apoiante de Maduro, nem de Guaidó e acredito que a Venezuela vai mudar muito brevemente, esperemos que democraticamente.
Portugal tem mais de meio milhão de emigrantes e ou lusodescendentes na Venezuela. Portugal reconheceu Guaidó como presidente interino da Venezuela. Agora, todavia, chegou-se a uma situação de impasse, com a atitude intransigente de Maduro. Isso é problemático para um país com uma imensa comunidade naquele país. Ao contrário de Itália, que, tal como Portugal e Espanha, possui milhares de cidadãos lá, mas que alega o princípio da não interferência que foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas.
Se para os Estados Unidos da América e outras grandes potências o interesse é financeiro e económico, para Portugal o interesse, além de humanitário, poderá, segundo alguns, ser também eleitoralista, pois é do conhecimento geral, que, mesmo sem haver qualquer estudo de opinião, aqueles que fugiram da Venezuela para a Madeira não apoiam, nem estarão com Maduro. Daí apoiar Guaidó poder rende votos em maio, setembro e outubro, mas a que custo?
Qual é o custo que isso trará? Isto preocupa-me e deveria preocupar todos os madeirenses e até os emigrantes que regressaram da Venezuela, pois têm lá família. Uma coisa é manifestarmo-nos contra o regime lá vigente, outra é o cuidado diplomático com que a questão deve ser tratada. A razão é simples: existem lá meio milhão de emigrantes e agora com quem é o governo português falará, sabendo-se da obstinação do regime chavista? Reconheceu Guaidó, mas quer ter uma política de diálogo com o governo de Maduro. Pelo menos, foi isto que foi entendido. Mas alguém acha que Maduro irá tolerar isto? Se houver um conflito, isso pode colocar em causa a segurança de familiares, amigos e concidadãos na Venezuela. Repare-se que a retaliação do regime de Maduro já se revelou. As forças especiais portuguesas foram impedidas de entrar em Caracas para proteger a nossa embaixada. Entre as vantagens político-eleitorais e a vida de muitos portugueses e madeirenses é aconselhável prudência.
Recordo que Alberto João Jardim recebeu Pieter Botha, que, na altura era presidente da África do Sul, num período em que se adivinhava o fim do “apartheid”, contudo teve que receber por uma causa maior, que eram os madeirenses. Aliás, houve então uma certa dialética, dando-se à Madeira uma certa liberdade nessa questão, um pouco diversa da política nacional. Na altura, o Governo Francês recebeu a comitiva sul-africana como visita de Estado. A Madeira ter recebido a comitiva sul-africana permitiu garantir a continuidade de pontes diplomáticas com um país com tantos madeirenses. A verdade e que isso não impediu, após a transição de regime, a Madeira e Alberto João de conseguirem manter e garantir pontes com Nelson Mandela e o Governo Sul-Africano.
Temos que aprender com a história! É certo que não ter recebido Botha teria sido mais confortável para a Madeira, mas poderíamos ter colocado em causa empresas, empregos e mais do que tudo a vida de muitos madeirenses na África do Sul.
Talvez o interesse dos lusodescendentes originários deste território aconselhe a uma estratégia dialética combinada entre a Região e a República, até porque a dicotomia entre anjos e demónios não se aconselha na diplomacia, quando há variegados interesses que, de um lado e outro, se movimentam, incluindo questões geoestratégicas. Preconiza-se pragmatismo sem perder a noção dos grandes princípios. A diplomacia é a gestão prudente dos dados em presença. Ainda vamos a tempo de compreender isso.
Neste momento, só nos resta rezar e aguardar que a Venezuela não caia numa guerra civil e que Portugal consiga proteger os seus filhos.
Post Scriptum 1: Não posso deixar de prestar a minha homenagem às crianças que morreram no Ninho Urubu (Centro de Treinamento George Helal) do Flamengo, e que perseguiam o sonho de serem futebolistas profissionais e morreram precocemente, um sonho que, infelizmente, terminou. Como diz o ditado grego: “morre jovem quem os Deuses amam”.
Post scriptum 2: Era importante ler os estatutos dos partidos antes de fazer notícia, pois não existe a “modalidade” “militante suspenso a seu pedido pela “moral” e os “bons costumes” e já agora era bom existir também a modalidade: “militante suspenso a seu pedido, pois não ganhou o candidato que eu queria.
Publicado no JM-Madeira em Siga Freitas
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