A semana foi notícia no JM-Madeira que há vários candidatos com licenciaturas e até com mestrado para serem assistentes operacionais. A verdade é que para 130 vagas existe 5659 candidatos. Uma situação preocupante…
Um dia imaginei esta entrevista, qualquer semelhança com a realidade, é pura e simples coincidência:
– Caro candidato, qual a razão que se candidata a este lugar de assistente operacional? – questiona o entrevistador, baixando os óculos até à ponta do nariz.
– Bem – o candidato enquanto coça o nariz responde - eu na universidade sempre gostei de apoiar tudo e todos… – conclui o licenciado em tachos e política pública.
– Apoiar, mas como? – com surpresa pergunta o entrevistador com o bigode farfalhudo.
– Sabem… – o candidato José Maria ajeita os ombros e esfrega as mãos argumentando – e com muita confiança – Eu na universidade fui presidente da associação de estudantes, levava as caloiras aos bares, às festas e a todo o lado. Sempre gostei de apoiar… reparem só, tive a melhor nota de sempre na cadeira de Cacique avançado, penso que sou mais que competente para satisfazer e apoiar sejam alunos, sejam professores e finalmente os pais!
– Mas… Para desempenhar estas funções não necessita de ter licenciatura, só precisava a escolaridade mínima obrigatória e o ordenado não é assim muito aliciante, não acha que tem competência para voos mais altos? Quem sabe… um cargo de dirigente político qualquer? – novamente o primeiro entrevistador, o dos óculos, aconselha em forma de interrogativa o candidato.
O candidato coça o pescoço e começa a pensar, olhando para o vazio ao fundo da sala, onde estava um quadro de ardosia já quase branco de tanto giz colocado lá.
Nisto, o terceiro entrevistador que não tinha tirado os olhos das folhas e do currículo do candidato múrmura para os outros entrevistadores:
– Este é o sobrinho do secretário de estado dos políticos perdidos e reclusos, já sabem como é…
– Ora… Caro José Maria, penso que podemos dar por concluída a sua entrevista, pode sair. – Conclui o entrevistador de bigodes.
Cumprimenta todos os entrevistadores e sai calmamente todo pimpão a sacudir as calças e fecha a porta.
– Este é aquele que temos que colocar em 2º lugar para entrar no concurso, para quando houver uma qualquer mobilidade e passar para técnico superior e está resolvida a sua situação, foi um pedido especial e temos que aceder, já sabem como é.
Tudo isto é pura ficção! Atenção é mesmo pura ficção.
O que é preocupante, é que os dados da OCDE de junho de 2018 mostram que são precisos cinco gerações para se sair da pobreza em Portugal. Nesse mesmo relatório ficou demonstrado que a mobilidade social não depende unicamente da educação, mas “está fortemente ligado à sua origem socioeconómica ou do nível de capital dos pais”. Esta é a demonstração clara que Portugal continua na cauda da Europa, mas também no Mundo, dificilmente um dia chegaremos ao sonho americano, aquele sonho em que aqueles que estudam, trabalham e esforçam conseguem atingir altos objetivos, mas essencialmente os seus sonhos.
Post Scriptum: Aconselho a leitura desse relatório da OCDE.
Publicado no JM-Madeira no Siga Freitas
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