quarta-feira, 1 de agosto de 2018

AS ÁRVORES MORREM DE PÉ


Desta vez não vou escrever o meu artigo em estilo de ironia ou humor, mesmo que, quando isso acontece, humor ou ironia, não os deixe de escrever com toda a seriedade que todo o assunto deve ter por respeito pelo leitor.

Eu cresci na zona do Largo do Miranda, contudo, tirei a instrução primária numa pequena escola no centro Funchal que estava dividida em duas partes. A primeira, era na rua da Conceição, onde eu tinha as aulas, e a outra era na rua do Bom Jesus. Ali foi praticamente o meu recreio.

Recordo-me, sempre que por lá passo, de todas as aventuras e toda a evolução que a rua sofreu ao longo dos anos. Recordo-me quando tinha a Nova Esperança e o meu pai todas as manhãs me comprava um bolo mil folhas para o meu lanche com um Nesquik. Confesso que ainda é dos meus bolos favoritos. E o bazar, inicialmente também da Mundo da Esperança, que na cave tinha brinquedos. Ainda hoje procuro a ambulância da Playmobil que tanto desejava.

Voltando à escola, que era a Escola da Sé, recordo-me de todas as manhãs serem feitas composições no quadro de ardósia. O mestre-escola era o Senhor Professor Firmino, um homem cheio de valores e com uma enorme capacidade de ensino. Tive mesmo muita sorte por ter o melhor professor do mundo na primária. Essa escola era no início da rua da Conceição, tinha um pequeno recreio, estava ao lado do parque de estacionamento que ligava ao centro comercial do Bom Jesus, onde havia a papelaria e livraria Anny Johnny. Mas voltemos à escola. Esta escola era propriedade da Câmara Municipal do Funchal e tinha diversas várias lacunas, mas uma escola é mais que um edifício eram os professores, os contínuos, na altura chamavam-se assim, que lá colaboravam.

Pode parecer estranho, mas, nas minhas memórias, lembro-me perfeitamente do Sr. Secretário Regional da Educação, Dr. Francisco Santos, ir lá à escola, confesso que não ouvi tudo o que foi pedido para a escola, mas nunca me esqueço de se pedir uma coisa muito simples, uma simples barreira, um varandim para proteger a porta e proteger os pequenos estudantes da 1.ª classe ou até a 4.ª classe. Pelo menos esse pedido foi satisfeito.

Hoje a escola já não existe, a câmara vendeu o prédio, não sei quando, nem a razão, não quis recuperar. Está a ser recuperado para um qualquer empreendimento. Crítico, porque, com tanta falta de locais para serviços e até de apoio aos idosos, crianças e associações, vendem-se estes espaços emblemáticos que marcaram uma geração infantil de funchalenses. E depois arrenda-se espaços para ter esses mesmos serviços. Atenção, não sei que executivo fez a venda. Voltando à rua do Bom Jesus, essa sempre foi uma rua fundamental e que frequentei diariamente, bem como a João de Deus, pois, quando vinha de casa, saltava do autocarro no Campo da Barca e ia para a escola e posteriormente para a Escola Francisco Franco, onde estudei desde o 7º até ao 12º ano. Olhando para estas duas ruas… Só posso reter na minha memória o que aquelas árvores simbolizavam, no Natal o colorido que as lâmpadas lhes davam, quais frutos natalícios, que continham um encanto mágico, atrevo-me mesmo a dizer que as suas luzes e o enquadramento era o mais belo da cidade. A sombra que davam naqueles dias de calor no verão, bem como a proteção que davam das gotas mais fortes da chuva. Também me desagradava, é certo, aquela cola que deixavam as flores que caíam no tratuário e deixavam a sola dos sapatos pegajosas, mas, nessa altura, os cantoneiros e serviços camarários, em certa altura do dia, varriam as ruas que pareciam tapetes de flores em de dias procissão.

Estas árvores, que tenho quase a certeza poderem ter simbolizado o Clube Barbusano, o clube da Francisco Franco, pois eram essas as árvores que formavam alas nas áleas ao longo da Francisco Franco.

Há quem diga que as árvores morrem de pé, estas são assassinadas, sem dó e sem qualquer piedade, talvez com um sentimento de culpa de falta de conservação de outros locais que nada tiveram a ver. Recordo que, recentemente, na Papua Ocidental, na Indonésia, os aldeões mataram quase 300 crocodilos para vingar a morte de um vizinho que havia sido morto por um qualquer crocodilo. Vivemos ao nível de uma Papua Ocidental, com estes vingadores!

Mas há algo mais que me choca? É que a Quercus tem um projeto: “Vamos plantar um milhão de árvores por município para salvar o clima”, mas, cá na Madeira, na sua capital parece que essa nobre associação está emigrada ou sequestrada, pois nem um único comunicado a condenar. Recordo-me da importância fundamental das árvores num meio urbano. A morte de qualquer árvore que não coloque em causa as vidas e bens deve ser consideram um crime de lesa-natureza e esse crime imputado a quem o decreta! Será que a Quercus poderia dedicar um minuto verde a este assunto da destruição destas bonitas e imponentes árvores? Apesar de virem novas e jovens 18 árvores, nenhuma delas irá substituir as que lá existem, pelo menos nos próximos 30 anos.

Espero que todos os madeirenses guardem nas suas memórias aquela rua colorida com todas aquelas gambiaras coloridas a iluminar os nossos corações no Natal. E na próxima quadra natalícia, o espírito da época será imbuído deste triste crime ecológico.

Post Scriptum: Espero que a suspensão do julgamento das árvores da Rua João de Deus (na foto) acabe e liberte as árvores para continuarem a viver, livres e saudáveis.

Publicado no JM-Madeira - Siga Freitas

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