quarta-feira, 22 de março de 2017

O altar da fé no empreendedorismo

Este mês, acabando o Carnaval, há que falar de assuntos sérios, nomeadamente empreendedorismo. Eu, apesar de ser favorável e defensor do empreendedorismo, há diversos aspetos que me deixam sempre reticente em relação ao mesmo, tal como já escrevi em inúmeros artigos.

Este mês, o que me surpreendeu, foi um daqueles muitos comentários que existem nas caixas de comentários de notícias. A notícia era no Jornal de Notícias e intitulada: “Representação da Comissão Europeia diz que Norte é jovem e empreendedor”, sendo que abordava o concurso “Elevator Pitch – IdeiasQueMarcam” para acelerar algumas startups ou até ideias, era isto que Sofia Colares Alves, chefe da representação da Comissão Europeia em Portugal, falava em entrevista. Mas então vamos ao comentário: um cidadão anónimo que me surpreendeu, e que dizia algo como: “Ao êxodo de população vêm os tecnocratas europeus falar de empreendedorismo. Se não trabalhas para o estado, se não emigraste, cria o teu próprio emprego. A europa ajuda. Antes pagavam Ferraris a empresários da confeção, agora financiam jovens empreendedores. Tretas.”

Logo, se abordarmos cada ponto desta frase, não é que até tem parte da razão. Quem não se recorda quando os agricultores eram pagos para não plantar, ou os pescadores para não pescar e até queimar os seus barcos? Tudo em prol de uma união europeia com a divisão internacional da produção. Mas agora, se analisarmos bem, uma percentagem elevada da população quer ser funcionário público ou então de uma multinacional que lhes dê um emprego estável e, assim, possa ter oportunidade em part time de abrir o seu negócio. Caso não encaixes nesta primeira premissa, tens mais duas ou até três oportunidades, a segunda é emigrar e fazer aquilo que te recusarias a fazer em Portugal, mas noutro país o fazes, ou então até ter uma oportunidade daquelas que nunca irias ter em Portugal. Finalmente vem a terceira, é sem dúvida o empreendedorismo, é claro que aquele “pessoal da Igreja Universal do Reino do Empreendedorismo” vai dizer que é tudo “tretas” o que acabei de escrever, porque o ecossistema em Portugal é fabuloso, somos um terreno fértil, pronto a cultivar, porque já possui os skills, mas tem que ter o mindset, pois já tem o know-how total e todas esses termos anglófonos que servem para receber todo o feedback dos parceiros. Há algo fundamental a deixar patente e que os apoiantes do empreendedorismo, aqueles que estão fora da “Igreja Universal do Reino do Empreendedorismo” dizem é que muito poucos serão verdadeiramente empreendedorismo e só 5% das startups conseguirão atingir algo que se consiga designar de empresa. A verdade é que a Europa, Portugal e outros tentam vender uma ideia errada, que é que todos seremos empreendedores. Isto é falso!!!! Todos podemos ser desempregados, mas nunca seremos todos empreendedores, até porque a nossa cultura diz-nos que temos que ser chineses ou pior, escravos de um trabalho que pode dar-nos zero euros, para ter o quer que seja. O que o Estado e a União Europeia podem é ocupar-nos, nem que seja a criar nada e dar-nos a ilusão que todos conseguiremos.

Para concluir este artigo, devo escrever sobre a última opção que existe, que é o sermos desempregados. Aqui é que deve haver a esperança e a capacidade de ver que não é o fim do mundo, antes pelo contrário, poderá ser a oportunidade de estudarmos, aprendermos e existem atualmente centenas de plataformas online para aprendizagem gratuita, e até conseguir uma busca ativa de um emprego, poderá conquistar aquilo que de necessita para dar o passo seguinte na sua vida, seja como funcionário de alguém ou até sentir que é empreendedor, mas não siga as rezas dessa “Igreja Universal do Reino do Empreendedorismo”.

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