"Numa altura em que as famílias regressam de férias e o volume de lixo que derrama dos caixotes triplica, o DIÁRIO foi acompanhar uma ronda nocturna de uma equipa de recolha de resíduos sólidos urbanos.Só com a ajuda dos homens da 'limpeza', vulgarmente chamados de homens do lixo, a cidade pode amanhecer, todos os dias, de 'cara lavada'.O RITUALEram dois, vestidos de laranja e azul, com um colete fluorescente que reflectia a pouca luz da noite. Pendurados no camião sobre o patim, José Manuel Mendonça, de 48 anos, e José Carlos Cova, de 55, apanhavam com o vento frio na cara, mas não se queixavam. "O serviço não pode deixar de ser feito. Alguém tem de o fazer", sublinhavam, conformados.
(...)
"É um trabalho duro e mal pago. Só temos um dia de descanso por semana", referiu José Manuel. José Carlos queixava-se de uma hérnia discal devido ao peso dos caixotes que tem de suportar todos os dias. "Quando estive na vassoura, andava sempre 'atchim, atchim', mas desde que vim para o camião, a alergia passou. Agora são as costas. Até já pedi para ir trabalhar para uma casa de banho", contou.
(...)
Habituados há quase 30 anos a recolher aquilo que os outros deitam fora, poucas são as vezes em que estes homens do lixo se queixam do cheiro. "Quando a minha mulher está a cozinhar, eu já nem sinto o cheirinho da comida. Depois de tantos anos de trabalho, o olfacto também se ressente", lamentou o motorista.
(...)
Além disso, se os caixotes não forem colocados no lugar onde estavam, também há reclamações. "Às vezes, os baldes do lixo são vandalizados. As pessoas culpam-nos e nós é que temos de os pagar", lamentou José Carlos. No Centromar há ainda outra história que Aldino Luís faz questão de recordar: a história do ladrão de carteiras. "Nós fomos atrás dele. E ele, com medo, largou logo a carteira da senhora que estava a jantar e fugiu", explicou José Manuel.
(...)
A geada fria da noite já se faz sentir, mas nada que incomodasse os homens do lixo. Todos os anos são vacinados, mas nem sempre se safam de apanhar uma pequena gripe. "No Inverno o serviço também tem que ser feito. À chuva ou ao frio, é igual", frisou José Manuel. Aldino Luís lamenta apenas que, por trabalhar no turno da noite, não esteja presente nas festas em família. "Ganhamos mais um pouco, mas às vezes não se justifica porque andamos sempre desencontrados", disse, por isso está tentando a passar para o turno das 8h.
(...)
Na volta aos Viveiros, despeja-se o lixo numa espécie de funil, que compacta e armazena o lixo até ser transferido para a Estação da Meia Serra, e é altura de lavar o carro por dentro para evitar que o cheiro se entranhe. O cansaço já é evidente, mas nem por isso José Manuel e José Carlos, os homens da 'limpeza', dispensam voar pendurados na traseira do camião, sobre o patim, aproveitando o fresquinho da noite."
Da minha parte: MUITO OBRIGADO!
Uma coisa que a meu ver deveria alterar é o facto das autarquias “pequenas” fundirem-se nestes meios, por exemplo ter “um só carro do lixo para dois concelhos” era um economizar de recursos… Não seria?
MADEIRA SEMPRE…
Gostei muito deste artigo, finalmente alguém dá valor ao trabalho destes homens, que tanto fazm por nós e pela nossa terra.
ResponderEliminarBem hajam, todos o que fazem destas ilhas, um lugar lindo para viver.
ResponderEliminarA eles estarei sempre grato.
A nível de recolha de lixo posso indicar que a Madeira e em especial o concelho do Funchal estão na linha da frente a nível nacional...Este concelho até é aquele que maior recolha selectiva faz a nível nacional per capita...
ResponderEliminarDe facto fruto de uma política ambiental que já vem de há muito - só para dar exemplo das campanhas do João Verdinho - a que posso atribuir o dedo ao grande vereador que em minha opinião foi Raimundo Quintal, nota-se que o Funchal está anos-luz à frente dos concelhos de igual dimensão cá no rectângulo - donde escrevo.
Só tenho que agradecer a toda a equipa que torna isto possível.
Não quero ser bota abaixo mas é preciso ter cuidado com os números relativos à recolha selectiva. Aparentemente na Madeira incluem as recolhas junto de privados e empresas enquanto que no Continente há empresas que devido à sua dimensão fazem a entrega nos pontos de recolha e essas entregas não são contabilizadas. Convém não esquecer que devido à nossa situação insular e como grandes importadores as nossas mercadorias têm muitas embalagens/plástico e cartão. Apesar disso penso que o Funchal é uma das autarquias com o melhor serviço de recolha no entanto não sei se os madeirenses serão os melhores recolectores. Pelo que vejo por aí dúvido...muita matéria prima acaba no recepiente dos resíduos indiferenciados!
ResponderEliminarNão ser bota abaixo? Comédia! Nunca vi escrever algo do que faria se tivesse no poder, essa é que é essa...
ResponderEliminarQuanto a esses dados... Acho que também desconhece alguns...
Eu nomeadamente vivi e voltarei a viver no Concelho de Almada e sabe por acaso como é que um veiculo da CMA levava o papel? No camião de caixa aberta, é claro que ia tudo ao sabor da vento... contudo a maioria se mantinha dentro... (menos mau)
Pois... Essas grandes empresas muitas vezes despacham nos locais apropriados... Nomeadamente os donos das poncilgas que deitam nas ribeiras, ribeiros e rios... Veja o caso de Leiria...
A Madeira está a anos luz do Continente... Quantas vezes o Funchal já ganhou o prémio de cidade mais limpa da Europa?
Muito disso se deve ao fundador do clube Barbosano na ESFF, o Dr. Quintal!
Há que atender aos factos e aos números veiculados...Por privar com pessoas que estão dentro deste sector posso lhe adiantar que definitivamente a Madeira está à frente neste aspecto e há que reconhecer isso...não há cultura de recolha selectiva de lixo cá no rectângulo e muitos poucos municípios promovem este aspecto. Poderá até ser produto de um conjunto de circunstâncias, mas a realidade mostra que apenas a Madeira e em especial o Funchal se encontram em posição de poder cumprir as metas europeias estabelecidas para 2010 em matéria de recolha selectiva e reciclagem de lixo.
ResponderEliminarDa mesma forma que critico veemente a política de aterros, despejos de terra sem qualquer tipo de estudo ou cuidado com a biosfera envolvente, a extracção indiscriminada de areia que prejudica e muito os nossos fundos marinhos e acelera a erosão das nossas costas, tenho de constatar que em política de reciclagem estamos no bom caminho.
Julgo que seria benéfico que muitos retirassem as palas partidárias e tentassem observar a situação tal como ela é - e digo isso para apoiantes ferverosos da oposição ou do partido do governo e neste caso também da autarquia...a clubite partidária é das coisas mais abomináveis que pode existir...
Um bem haja ao pessoal que luta perante as duras condições laborais para tornar o Funchal limpinho e apresentável à população! E digo que cá, na cidade do Porto,é incrível o que observo nas ruas, confesso que fiquei chocadíssima perante as ruas nojentas e isso faz-me ficar com nostalgias do nosso asseado Funchal!
ResponderEliminar