quarta-feira, 22 de novembro de 2017

PÁTRIA-MÃE OU MADRASTA?


A República, ou o Governo Português trata a Região Autónoma da Madeira como um filho mal-educado, um filho que não se sabe comportar. Além de ter um elemento que nos vigia, como é o Representante da República (cargo que já devia estar extinto há anos), e isto sem qualquer desconsideração para o titular, que nos merece consideração pessoal, eis que agora o Secretário de Estado Adjunto e das Finanças disse que a Madeira não teve uma política rigorosa para pagar o empréstimo que pediu.

Estas considerações, além de falsas, são caluniosas e, no mínimo, deveriam levar à demissão imediata do Secretário de Estado!

Para que todos entendamos a gravidade das declarações deste secretário de estado. Imaginem que são filhos de alguém que os desconsidera.

E o vosso pai que controla as contas lá de casa, por acaso quer comprar um carro novo, uma casa nova, a casa deve ter piscina e mais uma data de bugigangas sem utilidade, e que se pavoneava entre a família e amigos. Já vocês, que são filhos, estão na “flor da idade”, precisam de investir algum dinheiro na vossa educação, para isso pagam os estudos, e, a certa altura, ficam doentes, tiveram uma daquelas gripes, e têm de pagar as contas dos médicos e hospital. Nisto tudo, gastaram uma pipa de massa, seja na educação, nos transportes para deslocar-se, na vossa alimentação e finalmente na vossa saúde. É claro que têm uns “part time” para tentar sustentar isto, contudo não podem trabalhar a tempo inteiro, pois o vosso pai diz: “Aqui em casa, quem manda sou eu e só eu é que posso trabalhar.” Coisas à moda antiga, tipo Estado Novo.

Perante tudo isto, há um dia em que os empréstimos do vosso pai iam dar para o torto, estávamos mesmo a ver, era insustentável e perante isso têm que recorrer a um tio abastado, tipo Tio Patinhas e empresta com a condição de a cada 100 € que empresta têm que lhe dar mais 40 €, isto é, fica a dever 140 €. Ele, como está endividado até à ponta dos cabelos, não tem outra alternativa a não ser aceitar. Mas, quando chega a casa, austero, como sempre foi, impõe ao filho as mesmas condições, mas também diz: desse dinheiro, aquele que for do tio, dás e ainda ficas a dever mais, mas, como só podes ter uns “part times”, lá terás mais dificuldade em pagar - isto porque o pai não deixa ter um emprego a tempo inteiro.

Afirma: “ainda não tens maturidade para tal.” Mas a verdade é que o filho não pode ir falar com esse “Tio Patinhas”, pois não tem autorização do pai e fica enrolado neste enredo sem que consiga sair. Certo dia, a empresa onde o pai trabalhava dá-lhe uma promoção e um aumento de ordenado e assim consegue pagar algumas contas atrasadas e voltar a endividar-se nos bancos, sem necessidade desse tio. E assim consegue com que o tio, em vez de pagar os 40 € por cada 100 €, reduza para 10 ou 20 €. O que é muito positivo. Contudo, o pai, muito esperto que era, diz ao filho: “como tu andaste nesses luxos, que foi estudar, foste para o médico quando havia umas ervas aqui no quintal que podias usar para fazeres uns cházinhos, como em vez de andares a pé foste nesse luxo que era andar de autocarro, terás que continuar a pagar-me da mesma forma.” Apesar do filho ter cumprido sempre o estipulado, e não há um desafogo, pois tem que ter trabalhos precários sem ter algo definitivo. Alguém acha que este drama familiar é justo? Estaria na altura do filho emancipar-se ou não?

A nossa questão é muito semelhante, nós, Madeira, continuamos a ser família, mas é só para pagar. Não merecemos a confiança do Estado Português em pagar menos taxas de juros, não nos podemos financiar a juros mais baixos e o Estado ainda nos repreende. A verdade é que também não nos podemos emancipar financeiramente, não podemos criar o nosso próprio sistema fiscal e aí crescer de forma sustentável. A dívida que se fez foi investimento, investimento na educação, na saúde, nas redes viárias e etc. Mas o Estado, que gastou em bugigangas, bancos e nada investiu no país profundo, acha que merece ditar as nossas regras.

Publicado no JM-Madeira

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