segunda-feira, 8 de maio de 2017


Recentemente, li um artigo na rede social Linkedin intitulado “Meritocracia no Brasil Existe? Onde vive? Do que se alimenta?” de Rodrigo Focaccio e confesso que tive curiosidade em alguns dos dados que o Rodrigo partilhou no seu artigo e comecei a procurar alguns desses dados sobre o nosso país. Se no Brasil os dados não são famosos, em Portugal não ficamos atrás.

Vamos às questões essenciais, meritocracia existe ou não, como funciona? Um dos pontos essencial para a meritocracia ser uma utopia são as desigualdades sociais, logo de seguida a falta de mobilidade social intergeracional.

Este conceito de mobilidade social intergeracional, eu, que ingenuamente achava que só a Índia vivia essa ideia de castas, em que alguém numa casta inferior não podiam atingir uma casta superior ao longo da sua vida, mas sim noutra vida. Na verdade, nos países ocidentais, essa mobilidade social está bem evidente e os dados da OCDE de 2010 mostram que Portugal só está no primeiro lugar na imobilidade social, se quiser consultar os dados https://www.oecd.org/centrodemexico/medios/44582910.pdf. De forma muito resumida, isso quer dizer que, para uma criança que nasça numa família humilde, muito dificilmente conseguirá atingir outra classe social, isto não quer dizer que não aconteça, mas é difícil. Uma das principais razões está diretamente associada com as desigualdades sociais (Portugal é um dos 3 países com mais desigualdades sociais), os países nórdicos apresentem um menor grau de desigualdade social.

Logo a meritocracia só existe quando há igualdade de condições, por exemplo numa empresa se todos tiverem as mesmas condições poderá haver lugar ao mérito, mas será que há mesmo? Mas vamos a um país, como Portugal, será que haveria? Com tantas desigualdades sociais, é difícil conseguir a maioria dessas rupturas, tal como uma revolução, em que uma classe ascende e outra desce. Em Portugal, podemos verificar que, quando a República subiu ao poder, e deixou a Monarquia de lado, depois o Estado Novo e finalmente após o 25 de abril, se repararmos são sempre as mesmas famílias que se mantêm no poder e garantem o mesmo status. Mas Portugal não é um caso isolado, veja-se os Estados Unidos, desde os Bush, em que o pai foi presidente, um dos filhos idem e outro irmão que perdeu as primárias para o Trump. A verdade é que o dito “sonho americano” já é um conceito fora de moda, até nos EUA, algo que não devia ser.

A ideia da meritocracia pode ser um sonho para uma nova realidade, mas, quando se ignora o contexto e as circunstâncias, torna-se um objetivo impossível.

Se formos aos desempenhos escolares, algo muito falado em Portugal, a meritocracia não é muito melhor. Se repararmos, as escolas privadas possuem sempre melhores resultados que as públicas, muito devido à estrutura familiar e o poder económico, pois estes são decisivos para os desempenhos dos alunos.

No artigo que referi, e em que me inspirei e da pesquisa de dados para este mesmo artigo, há uma passagem bíblica que tem todo o significado que poderia explicar o porquê de as coisas não funcionarem: “Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.” Mateus 25, 29. Contudo, isso também pode funcionar como uma denúncia. Portanto, cabe-nos a nós interpretar o texto e dar-lhe conteúdo pela nossa ação.

Artigo publicado na Revista Madeira Digital 

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