quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A natação e o empreendedorismo


O que têm em comum a natação e o empreendedorismo? A resposta pode parecer complexa, mas, na verdade, é muito simples. Eu, há muitos anos, fui um desportista nadador, e confesso que, nunca tendo chegado ser um grande nadador, empenhei-me o máximo que pude, chegando inclusive a ter algumas lesões. Mas a natação é, sem sombra de dúvida, o desporto que mais pode demonstrar o que sofre um atleta e um empreendedor. Se um atleta sabe muito bem o que vai sofrer para atingir todos os seus objetivos, porque será que nem sempre há o livro que alerte para as dificuldades e todos os obstáculos que tem que ultrapassar? Acima de tudo, há algo que todos deviam saber, que é a vida em solidão que quase sempre caracteriza os grandes competidores, não apenas no desporto mas em todos os campos da atividade humana.

Há uma questão que sempre me intrigou em todas as conferências e debates em que participei: será assim tão natural chegar ao palco e ouvir todos aqueles sucessos? Porque é que ninguém fala da realidade?

Um exemplo fantástico do sucesso é traduzido pelo vídeo da marca Under Armour sobre os atletas olímpicos americanos, nomeadamente o vídeo do Michael Phelps que descreve todo o trabalho, treinos, exercícios, recuperação física e se traduz uma frase muito simples: “It’s what you do in the dark that puts you in the light.”, há algo em comum neste vídeo com todos os empreendedores que é a solidão, mas também a constante luta e as derrotas que se sofre para atingir a vitória. A natação é dos desportos em que solidão está mais presente e na derrota é muito raro poder responsabilizar-se o “juiz”, a relva ou outra coisa qualquer, mas somente a nós mesmos, pois entramos dentro de água e tudo se resume a isso, a um mergulho, diversas braçadas, umas viragens e um simples toque na parede. Somos literalmente lançados à agua e à nossa capacidade individual. No sucesso do empreendedorismo podemos atirar as culpas para os clientes, para o ambiente, para uma data de variáveis, mas, na verdade, tudo se resume a nós mesmos. Ao empenho que colocamos naquilo que desejamos, à nossa análise do que se está a construir. Podemos ter ajuda de outros e até ter colaboradores, mas só o nosso empenho poderá nos fazer brilhar, tal como um Michael Phelps quando chega a um pódio em que tudo pode ser resumido em menos de um minuto. Todavia, e na realidade dos factos, são anos e anos de trabalho. É claro que o Michael Phelps teve insucessos, teve problemas emocionais e psicológicos, tal como muitos empreendedores, passou por várias fases, mas teve que ter força para regressar ao sucesso, voltar a estar na escuridão do insucesso, do trabalho e da dedicação até voltar a brilhar com o esforço insano desenvolvido. Uma das coisas que mais me deixava frustrado era treinar e treinar cumprir todos os objetivos propostos, mas não atingir as metas desejadas: estaria a fazer algo mal? Olhando para trás direi que não, direi que fiz tudo e que se tratou de uma aprendizagem que irei transmitir ao meu filho, e que será importante ele viver para que possa crescer.

Ninguém pode achar que algum empreendedor, seja ele de menor ou maior sucesso, como o Steve Jobs, o Bill Gates, o Larry Page, o Sergey Brin ou outros, quaisquer que sejam, se baseou unicamente numa mera empresa de garagem e que foi sempre a crescer, sempre a ganhar dinheiro? Esse pode ser o filme que se vê, mas a realidade é bem diferente, eles tiveram que viver para o seu trabalho e dedicar-se a tudo, respirar, controlar tudo e até muitas vezes falhar.

Nunca ninguém saberá as vezes que fracassamos, mas bastará uma vez para todos se recordarem do sucesso que se atingiu e aí brilhar ao sol, porque o esforço e os nossos fracassos hão de ficar na sombra!

Artigo publicado na Revista Madeira Digital

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