sábado, 13 de fevereiro de 2016

O sonho

Quantos de nós sonha ser empreendedor? Penso que poucos. Em criança, podemos sonhar ser astronautas, bombeiros, polícias, professores, médicos e até primeiros-ministros, agricultores, mas poucos sonham ser empresários, ter uma startup era o sonho de poucos. Tal deve-se à nossa cultura, à cultura que os nossos pais, avós nos transmitiram: que o que era bom era trabalhar para o Estado ou para uma grande empresa e, assim, poder construir uma carreira profissional sólida e estável ao longo da vida.

Atualmente, perante as constantes crises que o nosso país vive, cada vez mais os jovens desenvolvem a vontade de ter a sua própria empresa. Mas será que todos nascemos para sermos empreendedores? Se compararmos com Israel, um país mais pequeno que o nosso, mas que, segundo as estatísticas, está no top dos empreendedores do Mundo, logo veremos a diferença. Aqui não há desculpas, porque vivem em quase constante clima de guerra, mas souberam sempre transcender-se para conseguir conquistar o que tanto desejam.

Voltemos atrás, quantos de nós pensa que ser empreendedor é copiar a Coca-cola? Isto é, esconder a o ingrediente secreto para ser a Coca-cola? Essa ideia é errada! Porque se a Coca-cola possui um ingrediente secreto, já o seu produto ou modelo de negócio não são segredo, mesmo que possa ter algumas estratégias secretas. Logo, o que é necessário é falar da nossa ideia de empresa e, ao falar, e aí entendermos as falhas da nossa ideia e podemos melhorar, e o certo é que esconder a ideia para que ninguém copie, não nos irá ajudar.

Já quando alguém está decidido a empreender, acha que é relativamente fácil, e, se você seguir a Arte de Guerra, ver-se-á que é necessário ter em consideração diversos aspetos antes de entrar na guerra. Por exemplo, ser prepotente e achar-se mais capacitado para conseguir atingir os seus fins. Por isso, é necessário fazer estudos de viabilidade, mas também formar-se e entender da área para conseguir esse objetivo.

Outra falha que nos persegue é dizer: “não há dinheiro”, o que fazer? Neste momento, na Europa e em especial em Portugal, existem centenas de entidades que podem ajudar e até financiar um negócio, tais como Business Angels, entidades governamentais, câmaras e até algumas ONG e até o crédito que está disponível para startups.

O momento certo para iniciar o negócio: imagine se em Israel algum empreendedor aguarda que chegue o momento certo! Seria algo como o fim do terrorismo, algo que demora e está há anos para acontecer, logo não há o momento certo. Se esperarmos pelo momento certo, a ideia nunca irá sair de um pedaço de papel ou até da nossa cabeça.

Outro ponto importante é acharmos que somos únicos e que não temos concorrência, esta é uma falsa ideia, porque existe sempre concorrentes e é importante conhecê-los para conseguir melhorar o nosso negócio.

Finalmente, aquele ponto a que queria chegar: não conseguimos fazer nada sozinhos, não se pode achar que se consegue algo sozinho quando se precisa de ajuda. Também o intercâmbio e convívio com outros empreendedores, até o conhecimento de outros ecossistemas sociais é fundamental para o nosso crescimento. Sabiam que Telavive é como uma Silicon Valley, e, neste momento, está a recrutar diversas pessoas para ir para lá e ter a sua oportunidade de acelerar a sua empresa? Se pensarmos que, em Telavive, existe uma startup para cada 431 residentes, num total de quase 420 mil residentes, poderemos ter a noção da sua dimensão. Logo, se tiver oportunidade de ir para Silicon Valley, deverá refletir.

Atenção, quero lançar um alerta, como diversas vezes já escrevi. Ser empreendedor não vai resolver o desemprego e há até estudos que provam o contrário. As estratégias para o emprego terão que ser outras e de fundo, estruturais, para o nosso país e a nossa região que necessita de capacitar-se e ter massa crítica para crescer.

Artigo publicado na Revista Madeira Digital

Sem comentários:

Enviar um comentário

O blogue Madeira Minha Vida não é responsável pelos comentários reproduzidos no blogue.
Cada comentário é da responsabilidade de quem o redige.

Comente com ponderação!