segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Eutanásia: O direito de morrer


Este é um assunto que há muito tenho uma opinião sólida e formada. Sou favorável à eutanásia em determinadas situações, nomeadamente em doenças degenerativas, oncológicas e outras em que a dor seja uma constante e a morte seja uma questão de pouco tempo e a morte seja o melhor cuidado paliativo.

Lembro da cadeira Bioética e Bio-segurança que a minha professora convidou diversos médicos a falar de diversos temas e um deles foi este - eutanásia.  E recordo-me de ouvir eles a dizer: "eu sei que se pratica eutanásia no SNS, mas eu nunca o fiz..." Apesar da segunda parte da premissa eu achar que mentiam, é algo que vem corroborar as afirmações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros:

“Vivi situações pessoalmente, não preciso de ir buscar outros exemplos. Vi casos em que médicos sugeriram administrar insulina àqueles doentes para lhes provocar um coma insulínico. Não estou a chocar ninguém porque quem trabalha no SNS sabe que estas coisas acontecem por debaixo do pano, por isso vamos falar abertamente”, sublinha Ana Rita Cavaco. "Não estou a dizer que as pessoas o fazem, estou a dizer que temos de falar sobre essas situações", acrescentou. in Rádio Renascença

Em relação a este tema deixo um relato de um médico em que praticou a Eutanásia da Revista Sábado, deixo um pequeno excerto:

"Antes de começar, perguntei-lhe uma última vez se tinha a certeza e pedi-lhe para ser ela a abrir o soro. O medicamento é dado por via endovenosa, de maneira que é preciso apanhar uma veia. Primeiro, pus o soro para manter a veia e logo a seguir dei-lhe uma injecção com um hipnótico usado para anestesias rápidas. Estava sentado na cama, do lado esquerdo dela. Levantei-me para olhar para o electrocardiógrafo. Pedi-lhe para contar até 10 ao contrário. "10, 9, 8, 7…", adormeceu. Abanei-a, não acordou.
(...)
Conceptualmente, percebo que a pessoa prefira que alguém a mate sem sofrimento do que ser ela própria a fazê-lo. Por isso, acho que a eutanásia devia fazer parte dos deveres do médico, obviamente só para casos em que seja justificado, e salvaguardando o direito à objecção de consciência. Dirão os detractores que isso vai contra o juramento de Hipócrates, mas o mesmo código também diz que se deve aliviar o sofrimento do doente. Ora se uma pessoa me diz que já não pode mais, e que a única maneira de lhe aliviar o sofrimento é morrer, eu como médico é que decido?
(...)
Ajudei mais pessoas a viver do que a morrer O acto em si nunca se banaliza. Claro que o envolvimento emocional também pesa, mas nunca deixa de ser uma herança pesada. Não há dilema: ter uma pessoa de quem gosto perto de mim a sofrer? Isso é condená-la. Todas as pessoas que me pediram ajuda estavam em profundo sofrimento, sem esperança de vida que valesse a pena viver. Mantê-las vivas, isso sim seria uma maldade horrorosa. Admito: se tivesse tido coragem, teria começado a praticar eutanásia mais cedo. Vi tanto sofrimento inútil…"


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