Carta ao vento

Amigo Orlando,

O nosso Marítimo perdeu, uma vez mais. Só que desta vez, o treinador foi despedido, dizem os jornais desportivos, mas o sítio oficial do Marítimo diz que o Lori é que se despediu. Mas olha, acho que vai ficar tudo na mesma, porque o principal responsável são sempre os mesmos e esses continuarão por lá.

Enfim…

Sabes que desde ontem que tenho pensado que há quem defenda que a vida é uma passagem e terá que ser vivida da melhor maneira e ser feito o que há de melhor.

Anteontem, quando mandei-te a mensagem estava verdadeiramente preocupado. Sabes, nunca quis parecer insistente e demasiado preocupado com a tua situação física, pois percebia como isso te deixava incomodado, por isso tentava disfarçar sempre com algo ligado ao futebol ou com alguma piada, para que por fim pudesse saber como estavas e se melhoravas. Contudo a tua resposta não foi a melhor: “Tou ligado às máquinas”. Nesses momentos não sabia que resposta te poderia escrever que pudesse minimizar as dores, os sentimentos, pois a preocupação era a única coisa que me invadiu. Respondi-te para teres força, fé e acreditar que era possível melhorar e não te deixares ir abaixo.

Ontem queria-te enviar outra mensagem escrita de manhã, mas não quis ser insistente e chato, então esperei que começasse o jogo do Marítimo para ter uma desculpa e disse-te que já perdíamos à espera que chegasse uma resposta de revolta, e aí perguntei-te como estavas… A tua resposta tardava… Até que a Telma enviou-me uma mensagem que eu não queria acreditar: “O Orlando faleceu.”.

Foi um choque… Apesar de já estares doente há muito tempo, teres sido submetido a diversas cirurgias, radioterapia, quimioterapia… Sei lá… Sempre acreditei que conseguirias fintar este obstáculo.

Orlando, nunca esqueças que para mim não foste um simples amigo, foste mais do que amigo, marcaste-me e muito pela tua personalidade, o teu carácter, a tua força, a tua luta, o teu humor e a tua entrega pela vida. Tinhas dores infindáveis (que ninguém conseguia entender) e essas não derrubavam e ao mesmo tempo conseguias sorrir, rir, fazer piadas e até gozar com as zebras e os lampiões. Ah... E eles ainda não sabem que eras o Bocas, quando souberem até se passam...

Tu, como grande marítimista, que entregaste parte de ti ao Marítimo, ao fórum do Marítimo, no qual o Marítimo era uma das nossas paixões e mesmo quando estavas internado, ou tinhas pontes na zona abdominal querias sempre saber do Marítimo e embora o risco que corrias insistias em ir ao Estádio dos Barreiros, apesar de eu dizer-te que eles não mereciam o teu apoio, foste casmurro ao ponto de ir apoiar o Marítimo (até nos 6 dos lampiões).

Não sei, se plantaste uma árvore, sei que não escreveste um livro, mas criaste em colaboração um fórum e muitos “desenhos” do Marítimo, logo poderá contar como um livro e deixaste o teu filho que se irá recordar de ti, como o homem mais corajoso que viveu uma odisseia de enfermidade, no qual venceu muitas batalhas e apresentou-se em todas com um grande sorriso.
Orlando, sempre foste eco da alegria, eco do bom humor, eco da felicidade, eco do contentamento, eco da disposição para a galhofa e também o Ecoverderubro… Uma coisa é certa, serás sempre o Eco daquele que teve ânimo, valentia, perseverança, bravura de combater o pior dos inimigos – a doença.

Amigo Orlando, para que saibas o teu eco ficará sempre guardado no coração de todos aqueles que te conheceram! (Até mesmo das zebras que nos fartamos de ser satirizar).

Tal como diria Vergílio Ferreira, nasce-se por inteiro, mas só uma parte é que morre, e de ti amigo Orlando, o teu corpo debilitado não resistiu a esta última operação, mas tu resistirás e residirás para sempre naqueles que te amam.

Um grande abraço amigão.