O Natal é das melhores lembranças que tenho, enquanto criança. Lembro-me perfeitamente. Naquela altura, os meus pais e tias ofereciam sempre uma roupa nova e usava-a logo no dia 24 de dezembro, vestia a roupa, quase sempre acompanhada de umas botas e uma parca, eram as peças que mais me ficaram na memória. Saíamos de casa por volta das 20:30 ou 20:45, muitas vezes atrasados, pois a missa do Galo, na minha Paróquia, era às 21 horas, já que o Sr. Padre Sá tinha de celebrar missa às 00 horas na Igreja da Boa Nova.
Subíamos o caminho do meio, quase como alpinistas em competição, com as folhas ao largo da estrada a dançar, como querendo entrar dentro do íngreme caminho. Chegando ao Largo do Miranda, lá tocava a descer o caminho das voltas e, em passo apressado, rumo à Capela da Choupana. Já era difícil arranjar lugar sentado no salão para assistir ao Acto de Natal. Era um momento que me encantava, uma peça de teatro, sempre levada a rigor pelos paroquianos. Imaginava-me sempre há 2000 anos a assistir àquela cena do nascimento do menino Jesus.
Seguidamente, subíamos um andar e íamos para a capela, ouvir as sábias palavras do Padre Sá. Confesso que só desejava ir para casa e dormir, aguardar que o Pai Natal chegasse… Até porque sabia que ele ia lá chegar. O meu professor da Primária, o Professor Firmino, dizia que tinha no terraço da sua casa uma armadilha para apanhar o Pai Natal, mas que ele tinha conseguido escapar, ano após ano… Ficava a imaginar, como é que era isso.
Noutro dia, saltava da cama e corria e corria… chegava ao pé do meu sapatinho e estavam lá tantos presentes… Há um que, particularmente, me marcou, foi uma camisola do Marítimo, com o número 9, era o número do Alex. Era o meu jogador preferido… Acho que ainda tenho essa camisola guardada e espero encontrá-la para transmiti-la ao meu filho.
Há quem diga que o Natal é das crianças, mas não está a ser exato. O Natal é de todos, não só na questão da reflexão, do recolhimento, no sentimento, na partilha, mas de todos aqueles que têm próximo de si as crianças. Hoje, o meu filho, com o tablet, através do Youtube, vê o Pai Natal, seja na Austrália, em calções, seja na Lapónia no seu tradicional fato. A sua felicidade em montar a árvore de Natal é tão grande, que nos aquece toda a casa. Imagino, como seria se ele visse aqueles milhares de árvores que ficavam à volta da casa da luz? Agora é uma mera amostra do que acontecia…
Hoje, o meu filho quer tirar fotos à árvore de Natal, ele já entende a importância do Menino Jesus, pois queria que ele estivesse por baixo da árvore. Ainda no outro dia, quando estava doente, tivemos de ir ao médico e perguntou logo à médica: “Onde está o menino Jesus?”, ela tinha-se esquecido do presépio, pois só havia Pais Natais e outros enfeites de Natal.
Ele, na verde maturidade dos seus 4 anos, passe o paradoxo, já diz coisas, que eu acho que nunca disse com aquela idade: “vamos ver as luzes de Natal”… O que seria que ele diria há 25 anos, quando as luzes brilhavam tanto como as estrelas?
A verdade é que o Natal, em cada época, em cada geração, faz-se essencialmente dentro de nós, nos pequenos momentos, nas pequenas memórias, nas prendas que pensámos que dificilmente nos vamos recordar e todas aquelas que nos lembramos, se calhar é aquela de que até o Pai Natal já se esqueceu.
Crescemos… O Natal parece começar a desaparecer para passar a ser algo mais interior, quando, de repente, o Natal volta a renascer seja com filhos, seja com netos… Seja na doce memória que há de prevalecer para sempre.
Publicado no JM-Madeira no Natal
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