Não há candidatura de esquerda em apuros que não amanheça, um dia, rodeada de um colorido grupinho de entusiastas prontos a mostrar que a intelligentsia nacional é um exclusivo de uns tantos. António Costa, como seria de esperar, não fugiu à regra: pouco depois de se recandidatar a Lisboa, lá recebeu o apoio de 120 (de acordo com as primeiras expectativas) ‘intelectuais’ de serviço que, mais do que se reflectirem no seu programa de acção, se sentem genuinamente incomodados com uma hipotética vitória de Pedro Santana Lopes. É verdade que Santana Lopes tem este condão: sempre que aparece – e ele aparece constantemente – consegue reunir, contra sim, um coro apocalíptico que anuncia, com inexcedível zelo, um incalculável número de catástrofes associadas à sua eleição. Em última análise, a intelligentsia portuguesa devia agradecer-lhe. Só ele, com o seu proverbial ‘mel’, consegue fazê-la sair da toca e exibir-se florescente nos mais extravagantes manifestos. Com ele, como dizia a canção, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que se junta, com ar grave e circunspecto, no Martinho da Arcádia, à sombra de Fernando Pessoa, disposto a denunciar os perigos que se escondem por trás das suas imprevisíveis aventuras políticas. Sem ele, este saudável exercício estaria condenado ao fracasso e rastejaria, por aí, sem brilho, entregue às qualidades clandestinas do actual presidente da Câmara de Lisboa.
Constança Cunha e Sá, Jornalista
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