segunda-feira, 21 de abril de 2008

(Des)Acordo Ortográfico


Esta é, de fato, uma ação que afeta a armonia do nosso Portugal e entristece-me o otimismo com que alguns tentam batizar este acordo como correto. Assim ficará uma frase com o Acordo…

Eu mesmo, na Éire, ando a seguir com muita atenção esta situação do Governo Socialista querer impor um Acordo Ortográfico: procurei ver o Prós e Contras, complementar com alguns vídeos no Youtube e com sítios na Internet. E fiquei com a ideia de que os argumentos a favor são muito fracos, diria fraquinhos! …
Acordo Ortográfico?! Diria: submeter-nos à vontade do Brasil?

Que eu saiba, a Terra de Vera Cruz terá como uma das principais consequências, para não dizer única, a queda do trema, que seria neste caso “conseqüências”. E a terra Lusitana terá o triplo das alterações, algo justíssimo?!

Imagine-se que eu enviava, da República da Irlanda, um postal para o Sr. Miguel Fonseca que dizia: “eu e os meus amigos andamos pela Ulster”, o Sr. Fonseca não conseguiria perceber se era Presente ou Pretérito Perfeito! Não saberia se eu andei no Norte da República da Irlanda ou na Irlanda do Norte.

A língua portuguesa tem tantos sotaques que a caracterizam e isso nunca foi, nem será, problema. As diferentes maneiras de escrever fazem parte da cultura do país, é isso que nos diferencia.

Não são unicamente 10 milhões que escrevem o português de Portugal, são muitos mais, basta ver quantos emigrantes tem Portugal pelo Mundo… Não pode ser uma questão de números, não se pode tratar a questão tão levianamente.

A língua portuguesa torna-se mais abrasileirada do que o “brasileiro” se torna a aportuguesado, volto a frisar que o número de palavras que muda, em Portugal, é três vezes superior ao que muda no português do Brasil. O argumento é que eles são 160 milhões?! E são só 3% das palavras?! E a frequência com que se usa esses 3% de palavras?

Dizer que irá facilitar o ensino do português é uma falácia, isto virá complicar, senão vejamos: “time” é um termo anglicano (de team), utilizado pelos brasileiros “incorrectamente”, para equipa. Para uma criança portuguesa será tradução para tempo ou para equipa?

Eu olho para o inglês do Reino Unido e para o inglês dos Estados Unidos da América e existem diferenças, mas alguma vez existiu algum acordo? Deixaram de se entender por isso? Nunca! Alguma vez o Reino Unido aceitaria americanizar a sua língua? Nunca! Acha que a França e a Espanha aceitariam um acordo do Canadá, da Venezuela ou de outro país latino?! Nunca!

Porque é que nós temos que abrasileirar a nossa língua? Estamos a vender a nossa alma, estamos a abdicar de parte de Portugal, do que nos caracteriza. Portugal, tal como se submeteu aos ingleses com o Mapa Cor-de-rosa, vem demonstrar, uma vez mais, que está disponível para deitar fora o que, para os portugueses, é mais importante - a língua. Para os que dizem que é somente uma alteração grafia, afirmo que a escrita influencia a leitura e a pronúncia (exemplo: “falámos” e “falamos” que ficará “falamos”, como consegue distinguir?)

Tal como se escreveu noutra carta: “Portugal será o Santuário da língua” se bem me recordo da definição de Santuário - lugar onde se pratica a religião - então deixem este (des)acordo e “levantai hoje de novo o esplendor” da língua PORTUGAL!

A minha carta no Diário de Notícias da Madeira - 21-04-2008

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